Mas, ainda fico encanado com a aparência das coisas quebradas. Não tem nenhuma aparência! Nada, simplesmente não são mais o que eram antes. Coisas quebradas são apenas meros vestígios vagos do que um dia se foi algo pomposo e palpável, numa realidade, com altura comprimento e largura, densidade e volume, sentimentos ou não, movimentos ou não e até com alma em alguns casos. A quebra traz deformação, a deformação traz sofrimento, o sofrimento traz dor, e tudo isso resulta num processo que deixa as coisas, ou nós, muito feios, sem graça e muitas vezes tristes desolados e sem esperança.
Entretanto, contrapondo toda a feiúra e mesquinhez da quebra, talvez ela nos faça muito bem. Quando somos quebrados, moídos mais precisamente, vemos quem realmente somos. A quebra tira todo orgulho, toda avareza, toda indiferença, todo egoísmo, modismo, escapismo, futurismo, e muitos outros ismos que nos fazem não querer encarar quem na verdade somos. Cada minuto do processo de quebra é extremamente útil para nos conhecermos como nós somos na essência, como fomos criados, imagem e semelhança de Deus. A quebra dá margem a pensarmos e refletirmos, ficamos mais abertos à visões de mundo diferentes das nossas antigas, e vivemos mais no presente, pois não há passado para se agarrar, visto que tudo foi destruído, e não há uma esperança de um futuro bom. É nesse momento, o verdadeiro presente, que Deus atua em nossas vidas de forma implacável.
No presente Deus atua com aqueles que não escapam para os lados. Por isso Ele nos quebra, mói e nos coloca em cheque-mate, para ter um real encontro com Ele. Constantemente somos desafiados a viver esse presente, no qual não somos nada além do que vasos quebrados, peças precisando de conserto, sem saber aonde ir, como agir ou o que fazer. No presente, somos apenas pessoas quebradas, filhos quebrados precisando de um pai que nos acerte. Deus tem o potencial para nos consertar, mas antes disso, precisamos assumir a nossa quebra, reconhecer o fato.
A história de Jó é uma boa história para uma ilustração relevante. Jó foi dilacerado, com a permissão de Deus. Teve seus filhos mortos, seus rebanhos dizimados, e seu corpo debilitado. Teve 3 "amigos" que jogavam na cara dele todo dia que Deus faz isso com as pessoas ruins e faz como castigo para com os pecadores. E ainda mais, teve uma mulher que o pediu para que amaldiçoasse seu Criador. Jó teve um processo de quebra que eu chamaria de extremo. Mas mesmo assim, com todas as dificuldades e problemas, Jó não amaldiçoou a Deus, não se voltou contra Ele, e assumiu que realmente era pecador. Jó era o homem mais justo da Terra na época, e talvez foi um dos homens mais justos do mundo todo. Alguém que foi dilacerado totalmente, para o reconhecimento de que ele não era nada perante Deus. Esse é o resultado da quebra.
Necessidade. A quebra nos traz uma necessidade de algo, de ajuda, conselhos e consertos. Quando assumimos nossa quebra, imediatamente pensamos em como consertar, reconstruir e acertar de novo. É aí que colocamos nossa vida diante de Deus e falamos: "Tó, é sua, você quebrou, você conserta tá? Toda sua.". É essa entrega que Deus deseja! Que dependamos dEle, que necessitemos do seu amor para completar nosso ser e acertar nossos caminhos. A quebra nos faz deparar realmente, face a face, com quem nós realmente somos. E nosso eu verdadeiro verdadeiramente precisa de um Salvador e Redentor. Pois sozinhos somos apenas cacos, quebrados, indiferentes e ridículos; mas quando entregues nas mãos do oleiro(cara que faz vasos), podemos ser derretidos novamente na aguá viva, e moldados com as próprias mãos do Criador. Que a gente aceite o que realmente somos, nada sem Deus, apenas vasos quebrados.