domingo, 7 de dezembro de 2008

Os dois irmãos

Bom, essa é uma história daquelas que você pode contar aos seus futuros netos, numa rodinha, ou perto de uma laleira em momentos de paz e de lembranças. Ela é uma história em que existe uma moral, um lição, personagens e como sempre e de costume, um que faz o certo e outro que faz o errado. Para explicar melhor e com poucas palavras é um causo que um cara se dá bem e o outro se ferra, basicamente. Alguns podem achar engraçado, principalmente quando souberem todos os detalhes, e outros podem achar ridículo ou maluco. Fazer o que? Esse é meu objetivo mesmo, não tenho intenção de escrever textos que gerem comodidade, ou que não causem o mínimo de estranheza em nossas mentes robotizadas e normalizadas com o que chamamos de trivial e eventual. Mas então, mais uma vez, senta que lá vem história!

"A história se passa numa segunda-feira chuvosa e muito atípica. Onde dois irmãos se encontram, depois de manhã e tarde de estudos, para um evento que vão todas as segundas, e tradicional futebol da semana. Como é dia de chuva, o irmão mais velho já desanima, pois não vê em todo o seu caminho de volta de onde estava, a possibilidade de aquela chuva parar a tempo de ele e seus amigos se divertirem jogando o mais famoso esporte brasileiro, o futebol. É por isso que vai para casa desacreditado e cético, quanto à possibilidade de uma diversão saudável e eficaz para sua forma e estado físico e também mental.
Ao contrário de seu irmão cético, o irmão mais novo tem atitudes muito diferentes. Quando seu irmão chega em casa, ele já está arrumado para o futebol, pronto para jogar e ir até a quadra para dar um show de bola nos demais. Mas as condições ainda não são favoráveis para ele, pois ainda está chovendo e sem indícios de parar. Os dois irmãos discutem sobre a possibilidade de não haver o futebol, de seus amigos não irem, e de ainda estar chovendo, e, visto que a quadra é aberta, esta estar toda molhada. Depois de muito falar, discutir e teorizar, os dois decidem ir até o local para ver no que dará. O mais velho o tempo todo relutante à possibilidade de ele dar uns dribles e uns passes errados naquele dia.
Pois então chegam ao local. Ainda chovendo. O irmão mais velho dá uma de "aha! eu não disse" e ameaça ir embora, pois não haverá futebol se continuar chovendo. Porém o mais novo em todo tempo permanece fiel à possibilidade de haver a partida de futebol, pois acredita que a chuva vai parar e ainda que a quadra irá ter o devido tempo e condições de secar. Não sei se comentei antes, ou se vou ser repetitivo, mas o irmão mais velho ainda está cético e não acredita em possibilidade nenhuma de haver um futebol.
É então que tudo começa a acontecer rapidamente. A chuva vai parando. Os meninos começam a secar a quadra. Os irmãos discutem. O mais novo diz que vai dar pra jogar e secar a quadra, e o mais velho desacretidado, nem liga, quer ir embora. É aí que a história tem o auge, e que a atenção especial aos fatos é requerida.
- Você já ouviu a parábola dos dois lavradores? - diz o irmão mais novo quando o mais velho fala que está indo embora.
- Não quero saber, eu sei essa parábola, vamos embora.
- Você sabe a história?
- Sei! Não vai dar pra secar toda essa quadra antes que comece a chover de novo! Choveu o dia inteiro, não vai dar pra jogar bola, vamo embora e parar de perder tempo aqui! Os rodos não vão funcionar e nem temos muita gente hoje mesmo, indo embora...
- Pois vou contar de novo, é assim: Dois lavradores estão cuidando de uma plantação. Eles estão num período de muita seca, e precisam da umidade trazida pela chuva para conseguir plantar. Um deles se prepara para a chuva, ainda que não se tenha nenhuma atividade de nuvens no céu. O outro não acredita que irá chover e nem prepara a plantação. O resultado é que chove dali uns dias e o lavrador que se preparou colheu bons frutos e conseguiu passar bem a estação da seca, e o outro ficou sem nada.
- Tá e que isso tem a ver com agora? - o irmão mais velho já estava impaciente, cansado e desacreditado. Não preciso nem dizer a palavra cético, preciso?
- Estou me preparando para jogar futebol, e é isso que vou fazer a quadra vai secar. Assim como Deus abençoou o lavrador que se preparou pra chuva, vai abençoar a gente parando a chuva pra gente jogar bola.
O irmão mais velho calou-se no momento, mas ainda permaneceu no seu ceticismo, pois a quadra não tinha secado completamente. Deu que dali uns minutos estavam eles todos, os irmãos, amigos, e novos amigos, agradecendo a Deus por ter parado a chuva e possibilitado a partida de futebol, e principalmente a secagem da quadra. Talvez foi o tapa na cara mais doído no ceticismo do irmão mais velho, que se julgava inteligente e até mais sábio que o mais novo. Foi a prova que não era nada, e não estava preparado para muitas coisas e que existiam ainda outras muitas coisas que ele precisaria aprender e compreender. Seu ceticismo o impedia de se preparar para as coisas, de acreditar, ter esperança."
E é isso que o ceticismo faz conosco mesmo. Nos deixa tão a par e a mercê da razão que não podemos nos dar ao luxo de ter alguma esperança no impossível ou no inimaginável. Tudo é uma questão de dados e fatos e coisas palpáveis. Mas, e se a vida não é assim? E se tudo for muito mais além de tudo isso? Será que o que vemos, sentimos, e temos como padrão de vida é isso mesmo? Nós realmente entendemos o sentido da nossa mera existência? Com o ceticismo não há espaço para estas questões, e sem essas questões as possibilidades de novos caminhos, sonhos a realizar e uma esperança futura são massacradas e dizimadas.
Ok, ok, sei que você deve estar na frente do seu computador talvez dizendo: "quanta bobagem para um texto só, poderia tê-lo dividido em dois"ou "É muita questão profunda sem reposta, essa história não é real, é só figurativa, não tem base real." e milhões de outros pensamentos que não tenho a compreensão, pois não leio mentes! Te peço que releve o que escrevi. E há um porquê. O irmão mais velho, aquele que levou a bofetada da fé de seu irmão, que teve seu ceticismo escancarado e jogado na lama, acreditou mais naquilo que ele mesmo sabia e podia ver, e não naquilo que não podia ver. Não confiou naquilo que estava além de seu conhecimento, e muito ainda além de sua capacidade de realização, mas finalmente aprendeu algo sobre fé. Aprendeu algo relevante, e que o fez parar para refletir e pensar sobre seu ceticismo e sua utilidade realmente nula. Ser céticos nos faz mal, e uma hora ou outra e nos impede de aproveitar algumas coisas que nos são oferecidas e são dádivas de alguém muito maior que nós mesmos. Talvez não entendamos tudo o que nos é passado diariamente, mas uma busca por isso já um grande passo e com certeza é bem sucedida. Realmente o irmão mais velho aprendeu uma boa lição aqui, e a moral da história cada um pode tirar por si só, sintam-se a vontade. Tudo isso aconteceu a algumas semanas, numa segunda feira chuvosa, e o irmão mais velho, meus caros amigos, era eu.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aha sabia q era vc, seu cetico!
zuera, achei familiar mesmo a quadra e etc... muito boa historia!