sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Como encurralar um impostor

Bom dia, impostor. Certamente você se surpreende com o cumprimento cordial. Talvez esperasse um "olá, seu tonto", uma vez que lhe dei marteladas desde o primeiro dia deste retiro.
Deixe-me começar admitindo que tenho sido irracional, ingrato e desequilibrado ao avaliá-lo. (É claro que, você sabe que ao me dirigir a você, converso comigo. Você não é algo isolado, uma entidade despersonalizada vivendo num asteróide, mas uma parte real de mim.)
Hoje, venho a você não com uma vara na mão, mas com uma ramo de oliveira. Quando era pequenino e pela primeira vez percebi que ninguém me protegia, você interveio e mostrou onde me esconder. (Na Depressão dos anos 30, você se lembra, meus pais estavam fazendo o que podiam com o que tinham apenas para providenciar comida e abrigo.)
Naquele momento, você foi inestimável. Sem sua intervenção teria sido sobrepujado pelo terror e paralisado pelo medo. Você me defendeu e desempenhou um papel crucial e protetor em meu desenvolvimento. Obrigado.
Aos quatro anos, você m ensinou a construir uma cabana. Eu rastejava, disfarçadamente, da cabeceira até os pés da cama e puxava o lençol, a coberta e o travesseiro para cima de mim-acreditando que ninguém me encontraria. Eu me sentia seguro. Ainda me impressiono como funcionava bem. Minha mente tenha pensamentos felizes,espontaneamente sorria e começava a rir escondido. Construímos, juntos, aquela cabana porque o mundo em que habitávamos não era um lugar amistoso.
No processo de construção, porém, você me ensinou a esconder de todos o eu verdadeiro e iniciou um processo vitalício de encobrimento, refreamento e retraimento. Seus recursos me capacitaram a sobreviver, mas, então, seu lado malévolo apareceu e você começou a mentir para mim. "Brennan", você sussurrava, "se insistir nessa bobagem de ser você mesmo, seus poucos e pacientes amigos vão dar no pé, deixando-o completamente sozinho. Guarde seus sentimentos, apague suas memórias, retenha suas opiniões e desenvolva habilidades sociais que lhe permitam encaixar-se em qualquer situação".
Dessa forma, começou o elaborado jogo de fingimento e engano. Por ter funcionado, não levantei nenhuma objeção. Com o passar dos anos, você e eu marcamos pontos usando uma variedade de recursos. Estávamos inflados e concluímos que o jogo deveria continuar.
Entretanto, você precisou de alguém que lhe colocasse as rédeas, que o encabrestasse. Eu não tinha percepção nem coragem para domá-lo, assim você continuou a fazer uma barulheira como Sherman cruzando Atlanta, reunindo forças ao longo do caminho. Seu apatite por atenção e afirmação se tornou insaciável. Nunca o confrontei em relação à mentira porque eu mesmo estava enganado.
No final das contas, meu amigo mimado, você é pobre e egoísta. Precisa de carinho, amor e um lugar segura para habitar. Neste último dias nas Rochosas, meu presente é levá-lo aonde sem o saber, você tem ansiado estar: na presença de Jesus. Seus dias de causador de tumulto são passado. A partir de agora, diminua o ritmo, diminua bastante o ritmo.
Na presença de Deus, percebo que você já começa a diminuir. Quer saber uma coisa, rapazinho? Você é muito mais atraente desse jeito. Estou apelidando-o de "Pequerrucho". Naturalmente,você não vai, de repente, rodopiar e morrer. Sei que às vezes ficará enfadado e começará a encenar, mas, quanto mais tempo passar na presença de Jesus, mais acostumado ficará com a face dele e precisará de menos adulação, porque terá descoberto, por si mesmo, que ele é Suficiente. Em sua presença, você se deliciará coma descoberta do que significa viver pela graça, e não pelo desempenho.

Seu amigo,
Brennan


(Extraído de O impostor que vive em mim - Brennan Manning)

Um comentário:

Ryuji disse...

da hora gui,
so nao saquei uma coisa, ese livro é bem antigo né? pra estar falano da depressao dos anos 30...
ese livro fala sobre o que?
muito bom ese trecho, falando das mascaras sociais que querendo ou nao sempre aparecem, e desaparecem, surgem do nada e sao violentamente impostas.
abçs t+